Luiz-Olyntho Telles da Silva
Psicanalista |
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Maria Carpi A POESIA ÉPICO-LÍRICA DE MARIA CARPI Luiz-Olyntho Telles da Silva Porto Alegre, 9 de abril de 2014 A leitura
dos poemas de Maria Carpi tem me feito muito bem. Minha alma se regozija!
A qualidade de cada poema, nos quais a opacidade proporcionada pelas metáforas
e pela riqueza das alegorias estimula vivamente minha imaginação, leva-me
a um interesse cada vez maior pelo conjunto de sua obra. Estava pensando
justamente nisso quando encontrei um comentário de Moacyr Scliar na segunda
orelha de Nos Gerais da Dor. Ele diz nela que Maria, depois de percorrer
o território da dor, daí retorna trazendo uma mensagem que é, ao mesmo
tempo, enlevo e encantamento. Pois bato palmas à sensibilidade de Scliar.
Ele percebeu, já no primeiro volume de sua volumosa obra, que havia uma
mensagem. Nesse propósito, nunca é demais lembrar que mensagem deriva do
latim missus, a mesma raiz de missa. Quando os padres rezavam
a missa em latim, terminavam sempre com a fórmula missa est, com o
sentido de as orações foram enviadas. É essa a esperança dos grandes
autores, que a mensagem enviada chegue aos leitores. Da missa de Fernando
Pessoa poderíamos dizer que canta o desassossego; a de Camões a importância
de aventurar-se por mares nunca antes navegados; a de Dante a busca do primor
da língua. Nesse sentido, a obra de Maria Carpi, mesmo incompleta – está
por ser publicado o dobro dos títulos já editados –, é também uma missa.
Se ela prega um amor à natureza, o que se dá muitas vezes sob a forma de
um diálogo, como no poema 7 do primeiro canto de Os cantares da semente,
Pondo-me grávida esse
amor que ela prega não corresponde a um retorno à natureza, como em Rousseau,
ou em Thoreau. A natureza, para Maria Carpi, é um lugar que se conquista!
Sua figura, por excelência, é a da Árvore. Por certo essa árvore é a do Paraíso,
a que, por ser do mal e do bem, protagonizou a queda de Adão e Eva, mas é
também aquela onde Beatriz espera Dante, às margens do rio Lete. Em Vidência
e Acaso, ela – inspirada em Homero –, diz assim, no poema 74:
E no 75 continua:Esta árvore que eu escrevo, Metade quis ser barca A natureza,
para Maria Carpi, é um lugar para onde se ascende, mas não sem esforço,
não sem luta. Não por nada, em As sombras da vinha, tal uma bandeira
desfraldada, ela anuncia, no poema 19:
Quero ser, da poesia, Essa
luta, contudo, não deixa de ter seu lado erótico, como ela confessa ao Vinhador,
no poema 13 do mesmo texto:
Tu que me tens no dentro, A
Poeta reconhece a importância do outro, mas não para a alienação, antes tanto
para servir como para ser servida. Para ela, como diz no poema 5 do segundo
canto de O herói desvalido:
o disforme Seguindo
a proposta de Cristo - como voltou a fazer o atual Papa -, cada um deve
aventurar-se mar adentro, Duc in altum, em busca de águas mais
profundas; o homem deve buscar ser o protagonista de sua própria história.
O fruto está na semente e a semente está no fruto.
Para
não tomar mais tempo, se me permitem, para terminar, gostaria de ler um
poema inteiro do seu O herói desvalido, um dos tantos, no meu entender,
a condensar sua mensagem, uma mensagem, em cadência franciscana, dirigida
– conforme à expressão de Lacan –, ao desser:
Minha insuficiência ainda Muito obrigado |
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