Luiz-Olyntho Telles da Silva Psicanalista

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A ARTE DA DESCRIÇÃO DISCRETA

em
A CASA DE PAPEL

Carlos María Domínguez
Tradução de Maria Paula Gurgel Ribeiro
São Paulo, Francis, 2006. 98 pp.
 
Luiz-Olyntho Telles da Silva

É um privilégio do começo da juventude viver adiante de seus dias, em toda a bela continuidade de esperança que não conhece pausas ou interrupções.

(Joseph Conrad, Linha de Sombra.)



Como analisar um texto? Por certo há várias maneiras. Cada crítico terá suas preferências. Quanto a mim, provavelmente por defeito de ofício, prefiro partir dos parâmetros oferecidos pelo próprio texto. De certo modo, parece ser assim que trabalha também o anônimo professor de Literatura, aqui em questão, dedicado às letras latino-americanas 
e no momento ocupado em devolver um livro ao seu legítimo dono.

Insinuado como uma discreta discussão de estudantes, A casa de papel ocupa-se da descrição das sempre discutíveis relações entre linguagem e realidade. No capítulo três temos uma indicação de seu método: há uma longa discussão sobre as afinidades. Bibliófilos, os personagens parecem discutir sobre a melhor maneira de organizar os livros em uma estante; mas a preocupação, mais do que com sua movimentação nas prateleiras, na verdade, não parece ser outra coisa senão um artifício para falar das causas; assim, quando fala das razões suficientes para resgatar uma obra do esquecimento, Domínguez alude, necessariamente, ao princípio de causalidade, o qual, por muito tempo, serviu como argumento suficiente de razão na organização do mundo. De suas causas e consequentes efeitos nada escapa, tudo flui necessariamente. Depois da decomposição do átomo, contudo, o princípio de causalidade já não era, digamos, razão suficiente para entender o mundo; quer dizer, nem tudo parecia organizado pelo determinismo do pensamento racional, havia também o que veio a se chamar de princípio de indeterminação.
1  Existem, sim, as afinidades evidentes, das quais a razão suficiente poderia dar conta, mas existe também o princípio da indeterminação que pode nos ajudar a compreender outras afinidades. É então que o Autor diz, ali no meio do livro, na página 53, o seguinte: Durante séculos, utilizamos um sistema vulgar, insensível à ordem real das afinidades. Quero dizer que Pedro Páramo e O jogo da amarelinha são obras de autores latino-americanos, mas para seguir o caminho de uma  é preciso ir a William Faulkner e a outra nos leva a Moebius. Pois aí está, para conhecer a obra de Juan Rulfo e a de Júlio Cortazar é preciso antes passar pelo romancista Faulkner e pelo escritor e desenhista de histórias em quadrinhos Moebius (Jean Henri Gaston Giraud Moebius), respectivamente.

Como lembra o autor, além das afinidades evidentes, naturais, existem ainda outras, o que faz recordar o romance de Goethe, As afinidades eletivas. Publicado em 1809, baseia-se em uma expressão química descrita por Torben Bergmann,  um químico mineralogista, matemático, de origem sueca, cujo livro, de 1775, chamava-se justamente De attractionibus electivis, depois traduzido ao alemão, em 1785, como Wahlverwandtschaft. Ao publicar seu romance, Goethe simplesmente passou o título ao plural, Wahlverwandtshaften, tratando aí da inesperada paixão pela qual um casal é tomado em relação aos seus hóspedes. Na química, a expressão de Bergmann refere-se às afinidades que destroem um composto em proveito de novas combinações.
2

Pois então, à luz dessas afinidades, a quem deveremos ler para ler A casa de papel?

As indicações do autor são preciosas. E, para começar, resolvo acompanhar Bluma Lennon, lembrando que toda obra tem seu passado. Ela havia recém-comprado um livro dos Poemas de Emily Dickinson, um livro encontrado em um sebo do Soho, em Londres. Caminha distraída enquanto lê os primeiros versos e já na primeira esquina, ao encontrar-se com o segundo poema, é vítima de um atropelamento. A linguagem e a realidade?! Sabemos que a personagem é uma professora em Cambridge, ocupada com uma tese sobre Joseph Conrad e... com alguns amantes, característica, esta última, a revelar uma afinidade com a própria Emily Dickinson, de quem se diz nunca ter querido relações declaradas com ninguém! Mais nada!

Difícil ir em frente! O narrador nos diz que ela só leu um poema. E então me pergunto: – Como ele sabe? Na verdade, a única pessoa habilitada para tal assertiva seria a própria Bluma Lennon! E nesse caso ela teria sobrevivido para contar! Qual a importância então da menção ao segundo poema?

Faço igual a ela, e olho ao acaso os poemas de Emily Dickinson. Mas, um instante: – Eu, no lugar de Bluma? Bluma? E por que não Bloom? Façamos uma inversão e, em vez de B.L., teremos L.B., Leopold Bloom. Não é Leopold Bloom que passa o dia caminhando pelas ruas do dublimundo? Assim não é difícil passar de uma rua do Soho para a Tristán Narvaja, atravessando pela Av. Santa Fé! E tudo com a leveza de um sonho. Visto assim, toda a descrição de A casa de papel pode muito bem constituir-se no sonho, na odisseia da própria Bluma Lennon, imaginando as consequências de sua morte, no modo como essa morte tocaria em seus amantes.

Ernildo Stein, conhecido Professor de Filosofia, costumava dizer que um grande sonho dos homens era o de, ao morrer, assistir ao próprio velório e voltar para casa, abraçado aos amigos que vieram despedir-se, ouvindo o que dele diziam. Quer dizer, enquanto comédia se pode tolerar a morte. Essa poderia ser uma porta de entrada para a análise d’A casa de papel. Abraçados a Bluma Lennon, voltaríamos do cemitério, retomando os fatos e nos perguntando por quantas coisas um homem é capaz de fazer por uma mulher. Teríamos aí dois temas pungentes e sempre entrelaçados: o sexo e a morte! Mas, aqui, quem volta do cemitério, não é alguém que passou pela morte, mas sim alguém que desconfiou de sua sombra e foi examiná-la.

Agora, mais seguro de meu papel, vejam o Dickinson encontrado:

 
Because I Could Not Stop for Death
Because I could not stop for Death,
He kindly stopped for me;
The carriage held but just ourselves
And Immortality.

We slowly drove, he knew no haste,
And I had put away
My labor, and my leisure too,
For his civility.

We passed the school, where children strove
At recess, in the ring;
We passed the fields of gazing grain,
We passed the setting sun.

Or rather, he passed us;
The dews grew quivering and chill,
For only gossamer my gown,
My tippet only tulle.

We paused before house that seemed
A swelling of the ground;
The roof was scarcely visible,
The cornice but a mound.

Since then 'tis centuries, and yet each
Feels shorter than the day
I first surmised the horses' heads
Were toward eternity.


Eu o traduzo assim:

Porque eu não poderia parar para Morte,
Ele parou gentilmente para mim;
O coche levou, mas apenas nós próprios
E a imortalidade.

Nós dirigimos lentamente, ele não conhecia pressa,
E eu tinha de afastar
Meu trabalho, e os meus tempos livres também,
Por sua civilidade.

Passamos pela escola, onde as crianças competiam,
No recesso, no pátio;
Passamos os campos de cereais maduros,
Passamos o poente.

Ou melhor, ele nos passou;
O orvalho cresceu tremendo e frio,
Minha bata apenas uma teia diáfana,
O meu manto apenas tule.

Pausamos ante a casa que parecia
Um inchaço do terreno;
O telhado parcamente visível,
A cornija apenas um montículo.

Desde então, foram séculos, e como cada um deles
Se sente mais curto do que o dia,
Conclui que as cabeças dos cavalos
Iam em direção à eternidade.

Não lhes parece que esse poema nos dá uma ideia da atmosfera do romance? As imagens são fortes. A morte, a grande mestra, no dizer de Hegel, nesse poema, é um cavalheiro: o Senhor Morte. Quem sabe mesmo seja o narrador. Depois, a competição na escola, a casa de papel parecendo um inchaço do terreno e a cavalgada em direção à eternidade.

Confrontado com a morte, o poema revê a vida até a conclusão pela finitude. E a terceira de suas seis estrofes costuma ser interpretada como as três idades do homem: as brincadeiras de competição infantis, os campos representando a vida adulta e depois a maturidade. Linguagem e realidade?

Mas para ler A casa de papel é preciso acompanhar um pouco mais o narrador. Quem mais ele cita? Que livros e autores são capazes de interferir no destino das pessoas? O tigre da Malásia? Por certo uma referência a Emilio Salgari, esse incrível escritor de livros de aventuras, que, no final do século XIX, criou Sandokan, conhecido como O tigre da Malásia. Lembra também Herman Hesse, por seu romance Sidarta. E Hemingway e Dumas,
e os manuais de cozinha. Todos interessantíssimos e apaixonantes, capazes de salvar vidas
. Mas quem pode desequilibrar mesmo, a ponto de quebrar as pernas, é Faulkner, o mesmo Faulkner que ele volta a mencionar quando examina o processo para se ler um livro! E o Livro citado aqui é Absalão, Absalão, apoiado no Velho Testamento (2º Samuel: 13,1). As afinidades de Absalão – o primogênito do rei David –, com sua meia irmã Tamar e com seu irmão Amnon, a resultar em outra revolta contra o pai. – Os livros têm história. Se as desconsideramos, sua leitura pode ser tão indigesta como o foram Os irmãos Karamazov, de Dostoievski, para certo cachorro chileno.

Suas lembranças levam-nos a pensar em livros de aventuras. Para não nos deixar com muitas dúvidas, menciona ainda O chamado da Selva (p.19), de Jack London,3  Zorba, de Nikos Kazantzakis,
e ainda a discreta menção de A vigésima quinta hora, do romeno Virgil Gheorgiu, onde iremos descobrir o simples aldeão Moritz que tudo o que quer da vida, em meio a perseguição nazista, é poder seguir aos dez mandamentos
.

Ah! A aventura. E deixemos anotado que, se a morte espreita, isso implica na presença do amor.
Na primeira parte do livro, os autores citados – com nome e sobrenome –, são justamente estes: Emily Dickinson, William Faulkner e o autor do livro transformado em tijolo – A linha de sombra –, Joseph Conrad, a quem justamente Domínguez dedica o seu A casa de papel.

Aí está! Se para ler Pedro Páramo é preciso ler Absalão, Absalão, para ler A casa de papel é bom lermos A Linha de sombra, e também, eu diria, As afinidades eletivas, de Goethe, pois não podemos nos esquecer do empurrãozinho final dado pela ex-esposa de Carlos Brauer em direção à sua ruína.

Aproxima-os o exílio: ambos, Conrad e o Professor de Literatura latino-americana, são estrangeiros morando na Inglaterra. Um em Kent, o outro em Londres. Conrad, um polonês, nascido Józef Teodor Konrad Korzeniowski (1857-1924),4  que perdeu os pais muito cedo e chega à Inglaterra com 21 anos, e o professor, um argentino que – não mencionando o pai, apenas a mãe –, está aí há quinze anos, tal qual Domínguez que, na época da publicação do livro, estava no Uruguai também há aproximadamente 15 anos.

O livro de Conrad fala das experiências de juventude passadas no Oriente em busca da vida adulta, o de Dominguez diz das aventuras vividas pelo personagem enquanto prepara o concurso para ocupar a vaga de Professor em Cambridge, preocupado também com a influência da Literatura anglo-saxã nas letras latino-americanas. Conrad e o Professor viajam ao Sul. Para compreender o que se passa em suas vidas, precisam ir ao sul. O Uruguai do Professor é a Bangkok de Conrad. E a essa preocupação com o sul junta-se também Faulkner, um sulista quatrocentão a escrever sobre o sul, para escrever sobre o que se passa em sua casa. Enquanto Conrad e o Professor vivem suas viagens, Faulkner escreve a partir de sua experiência de leitor. Embora Absalão, Absalão seja considerado seu melhor romance, não posso deixar de evocar outra obra sua, O som e a fúria, eco do Macbeth, de Shakespeare:

Life... is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.

(Ato V, cena V.)

A ironia shakespeariana, presente na leitura da fúria de Absalão, acompanha-nos.

A viagem do Mestre em Cambridge a La Paloma, na província uruguaia de Rocha, é toda uma aventura. O próprio nome da província de Rocha, o qual – conforme uma lenda –, se deve ao nome de um pirata que noutros tempos se adonou daquele recanto, lembra aventura. La Paloma, que deveria ser um símbolo de paz, estava transformada em terra devastada: os pinheiros caídos, os galhos soprados pelo vento, a areia entrando pelo nariz. Eliot por certo aí não era só um resto; era também autor! Para encontrar o que buscava, o Professor Assistente precisava enfrentar a fúria da natureza.  A linguagem e a realidade!

Em Conrad e Domínguez, estamos envolvidos em ritos de passagem e as viagens são sempre uma espécie de excipiente a possibilitar isso. Às repetidas viagens entre Londres e Buenos Aires acrescenta-se outra, a Montevidéu e à remota província de La Paloma. Esta, o narrador a descreve: a travessia do Rio da Prata, o aliscafo. O detalhamento dessa viagem me faz pensar no valor simbólico valorizado por Conrad. Se tomarmos o Rio da Prata como uma construção política a facilitar a delimitação dos dois Estados, então podemos começar a pensar no valor metafórico das travessias.

Afinal, vivemos em um universo de livros. Não só a casa, o mundo é de papel! Não há a realidade sem a linguagem! Na impossibilidade de compreender o mundo em que vivemos, cercamo-nos de metáforas e vivemos ao seu abrigo. Mas como as soluções são sempre provisórias, característica primeira das metáforas, o problema é quando elas viram sintagmas cristalizados, metáforas petrificadas, momento em que se imagina poder morar para sempre nos tropos da retórica, a salvo da realidade. É o caso do enlouquecido bibliófilo Carlos Brauer, contraposto ao de seu colega Augustín Delgado. Ambos viviam em casas de papel. Delgado com as paredes cobertas de vitrines recheadas de livros, enquanto Brauer recheava as próprias paredes com livros. Símil das pulcras paredes de Delgado eram seus livros, de páginas sempre limpas, sem um único rabisco, ao contrário das margens de Brauer, cobertas de garranchos. Eu trepo com os livros - dizia Brauer -, e se não há marca não há orgasmo. (p. 45). O problema é seus garranchos nunca produzirem um texto próprio. Conhecemos a relação da psicose com a escrita: graças a ela, muitos se mantêm aí, numa espécie de linha de sombra, calmaria estagnante a impedir a saída da infância para a vida adulta. A escrita pode valer muito nesse caminho; a obediência às leis da sintaxe por vezes ajuda, mas não é uma garantia. Para Carlos Brauer não ajudou. No lugar de um livro construído com os garranchos, construiu com os livros apenas um rancho.

Brauer lembra um pouco Mr. Kurtz, personagem de O coração da treva,
5 também de Conrad: ambos aparecem pouco e são sempre descritos por outros. Enquanto Mr. Kurtz faz pensar nas motivações inconscientes, de certo modo Brauer nos mostra o que acontece quando não se considera o inconsciente.
 
Quem nunca ouviu o chiste que diz da diferença entre o neurótico, o psicótico e o psiquiatra? – Enquanto o primeiro constrói castelos no ar, o psicótico mora neles e o psiquiatra cobra o aluguel! No caso de Carlos Brauer, as coisas iam bem até aparecerem as cobranças. Primeiro é a cobrança de uma ex-esposa um tanto nebulosa, quando se vê obrigado a vender a casa. Muda-se para a Laguna de Rocha e constrói a casa de papel – um inchaço do terreno. Está aí quando recebe a carta de Bluma Lennon pedindo-lhe a devolução de A linha de sombra, indispensável para a tese que ela estava escrevendo sobre Conrad, agora um dos tijolos de sua casa. O efeito dessa demanda produzido em Carlos Brauer me leva à seguinte pergunta: Indispensável para Bluma Lennon era o livro ou, quem sabe, o próprio Carlos Brauer?

Como chegou à insólita construção não sabemos. Delgado nos conta dos sinais de deterioração: o vinho quixotesco, o fetiche com os livros, as condições de leitura afinadas com a época da escrita (luz de velas para os livros até o século XIX e elétrica para os do século XX), as respectivas músicas de fundo, e, por fim, o incêndio do fichário. O fogo diante de um bibliófilo – diz Delgado – tem o efeito da incineração de um sonho.  (p.62) E sem sonhos já não há mais vida.

A casa de papel mostra, assim, pela homenagem feita a Joseph Conrad, uma alusão às quantas maneiras há de se atravessar o Rubicão, ou seja, por quantos modos há de se transitar da realidade à linguagem, mas é também uma discreta descrição da relação amorosa entre dois amantes que não se encontrarão jamais.

Profundo admirador de Conrad foi também outro poeta aqui mencionado, T.S. Eliot: admirava-o tanto que pretendia colocar como epígrafe do seu Terra Desolada (The Waste Land) as últimas palavras de O coração da treva: onde hoje está a frase referente à Sibila de Cumis, deveria estar O horror! O horror!

A biblioteca que se forma é uma vida. Cada livro tem sua biografia, cada mão que o toca impregna-lhe, com sua afinidade, sua própria história. É graças às leituras que podemos fazer escolhas, que nos tornamos e-leitores.
Vetou-o Ezra Pound.6  

Acompanhar os périplos deste exemplar de A linha de sombra amadureceu o narrador. O Sr. Morte conduz seu carro, agora, com um olhar perdido por entre as orelhas dos cavalos.
 

É um privilégio do começo da juventude viver adiante de seus dias, em toda a bela continuidade de esperança que não conhece pausas ou interrupções.
(Joseph Conrad, Linha de Sombra
.)


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Notas:

1. Pelo princípio de causalidade, o passado aparece agindo diretamente no futuro, efeito chamado necessário (Peirce). Mas, sabemos, a vida se desenvolve é entre acaso e necessidade, resultando no que chamamos de contingência, esta modalidade de apreensão do pensamento que contém o inexato, pelo qual as leis não se configuram absolutas e invariantes. O contingente evita o fatalismo, como diz M. Chaui, no seu Filosofia. Heidegger, em Ser e Tempo, Parte I, assim discorre em relação ao pensamento: O pensamento vive um movimento de converter as antíteses e sínteses visíveis das representações na harmonia invisível de sua origem. (...) A arte de pensar é dada por um modo extraordinário de sentir e escutar o silêncio do sentido, nos discursos das realizações. No pensamento não somos apenas enviados a remissões e referências. Não está na semântica ou na sintaxe a originariedade do pensamento. Uma paixão mais originária do que toda semântica ou qualquer sintaxe, a paixão do sentido, toma posse de nosso ser e nos faz viajar por dentro do próprio movimento de referir, de remeter, de enviar (p.13, 6 ed., Petrópolis, Vozes, 1997).  É essa paixão do sentido – o Desejo-, que determina a causalidade psíquica, suscitando os efeitos de sentido.]
2.  A definição apresentada pelo Dicionário Houaiss é parcial e bem diferente da aqui apresentada
3.  Pseudônimo de John Griffith Chaney.
4.
Contemporâneo de Freud.
5. A tradução ao português usa treva no plural, o que parece não corresponder ao título original.
6. Cf. o meu Leituras, livro publicado pela AGE, 2004.


Este ensaio foi produzido a partir de um convite da Confraria da Leitura de Porto Alegre. Presidente de Honra: Ivete Brandalise. Em 10 de março/2008. Reescrito, entre janeiro e fevereiro de 2010, para o programa Leituras: Janelas para o mundo da Saraiva MegaStore, em Porto Alegre.

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Comentário 1:
    Muito interessante o texto sobre o livro A Casa de Papel. Esta categoria "interessante", pra mim, vale mais do que "bom" ou "muito bom", porque a valoração pode sempre ser relativa, mas gostar porque dá o que pensar, ou porque levanta questões a discutir, acho mais importante.
    Talvez disse isso pela questão do sentido diferente de razão, ou pela questão das afinidades...
    Me parece que são muitas as casas de papel, e cada um constrói a sua, assim como cria afinidades de obras e autores. Eu imaginei, por exemplo, que a personagem teria lido aquele poema da Emily Dickinson que acho mais irreverente:
"I'm nobody
 who are you?
are you nobody, too? then there's a pair of us!..."
    E estou lendo O Agente Secreto, de Joseph Conrad, uma mistura de policial com crônica de costumes e romance psicológico. Interessante... Se ligássemos todas as casas, teríamos um labirinto, ou um castelo!?
Silvia Maria Rocha
Poeta, tradutora e Crítica