Luiz-Olyntho Telles da Silva
Psicanalista |
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COMENTÁRIOS CRÍTICOS AO TEXTO
TRANSITORIEDADE, DE LUIZ-OLYNTHO TELLES DA SILVA Dulcinea Santos
O espírito que atravessa seu texto – Transitoriedade - lembra-me as explanações de Luc Ferry sobre a ética contemporânea. Ao contrário das anteriores, sustentadas por valores morais, tais como o da bondade, da generosidade, ela é alicerçada por valores espirituais, entre eles, o que concerne à realidade da morte. Na epígrafe, com pensamento de Boccacio, enuncia que as coisas, todas elas, possuem natureza morta e sujeitas a perigos infinitos. É preciso, portanto, dentro de uma visão humanística, que o homem, com lucidez e com coragem, como fez Ulisses, saiba enfrentar os infortúnios desse limite, que é a finitude imposta à vida - aceitá-la, como fez ele, ao recusar a imortalidade com juventude oferecida por Calipso, como exemplifica Ferry; pois, ainda como transcreve este: a morte faz parte da vida, recusá-la nos perderia. Husserl apresenta-nos sua ética, sustentada no princípio da transcendência na imanência, bem traduzida no que diz a respeito da transitoriedade: - Se tudo é transitório, temos de deduzir da transitoriedade sua permanência. Seu exemplo da barbie, associada à bonequinha de trapo, ajuda-nos na compreensão desse movimento dialético enunciado pela fenomenologia husserliana. A boneca barbie pode ser simplesmente uma invenção, de caráter temporário, efêmero - a mais vendida de todas, em todo o mundo, em todos os tempos, e assim implicando os efeitos do consumismo, caracterizado pelo natureza supérflua, descartável. Mas, se reconhecida na experiência originária da criança – cujo modelo é a bonequinha de trapo, a que lhe fez certamente experienciar a fecunda fantasia da maternidade - companheira de sempre de tantas amiguinhas -, a barbie agora lhe traz esta presença transcendente, que, vinda do exterior, não se encontra em parte alguma, a não ser na sua consciência, na sua voz interior – e, desse modo, participando do seu fantástico universo infantil – onde o antigo e o moderno se mostram simultaneamente – onde, nesta outra situação - passados os efeitos devastadores das doloridas perdas da humanidade, é possível conseguirmos confiar no homem, como um menino confia em outro menino. É nessa ética onde podemos viver sabiamente, pois escapar às paixões tristes (Shopenhauer) do passado e às ilusões do futuro, plantadas pela esperança, para viver no instante presente, é viver conforme a sabedoria humanística: é ela que nos faz experimentar aí a eternidade neste mundo que, no entanto, é mortal e perecível. Recife,
09 de julho/2013
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