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31 XII 2009:
POMBO DE PAPEL
Luiz-Olyntho
Telles da Silva
O ano termina. Como
uma flor caída, não retornará ao seu galho. Assim se expressava o poeta
Zeami (1363-1443), do teatro Nô, na peça Yoshitsune em Yashima.
Todos sabemos disso, embora no Ocidente o costume seja dizer - de forma
menos delicada -, que a palavra dita não volta à boca, assim como a pedra
jogada não volta à mão de quem jogou! Mas quando latinizamos, com o clássico
tempus fugit, resta uma ideia, embora longínqua, de que
se pode perseguir o tempo. No Purgatório (4,9), Dante expressa-se
assim: Vasene 'l tempo e l'uom non se n'avvede. Não queremos admitir
nossa finitude. No inconsciente, dizia Freud, todos nos cremos imortais.
A morte é um saber que se busca contraditar. Arakida Moritake, um dos mestres
do Haikai, que provavelmente viveu entre os anos de 1473 e 1549, compõs o
haikai ao lado, convencionalmente traduzido por:
Uma flor que cai –
Ao vê-la tornar ao galho,
Uma borboleta!
Jacob Klintowitz, reconhecido crítico de Arte, e um estudioso
do teatro Nô, somando-se àqueles que continuam confiando na possibilidade
de renovação da humanidade, traduziu-o assim para os amigos:
Eu penso: as flores caídas
retornam aos seus galhos
Mas não! São borboletas
O conhecimento, dizia
Bachelard, é sempre a reforma de uma ilusão - o que não nos impede de continuarmos
a sonhar, eu poderia acrescentar.
Isso me fez lembrar de uma correspondência particular, entre a Secretária
da Embaixada Japonesa em Washington, Kimiko Hirota, e Pablo Ortega, Secretário
da Embaixada de Sacramento, também em Washington: os haikais serviam-lhes
de sublimado veículo amoroso. E então, no transcurso dos dias sucessivos
à morte do Ministro John Foster Dulles, Pablo Ortega, quando já sabia que
a presença de uma flor, o mais das vezes de cerejeira, representava sempre
a primavera, que o grilo sugeria a noite, o cuco o entardecer e o sino as
primeiras cores da manhã, compôs um haikai representativo, malgré tout,
da sempre presente esperança no coração dos amantes:
Com cartas brancas,
O senhor cônsul solta
Pombos de papel.
Foi assim que nos contou
Erico Verissimo em O Senhor Embaixador.
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rakka eda ni
kaeru to mireba
kochô kana
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