Luiz-Olyntho Telles da Silva Psicanalista

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1º.06.2011:

MÚSICA, MAESTRO!
Sobre o surpreendente 7º Concerto Oficial da OSPA/2011

Luiz-Olyntho Telles da Silva

Uma vez se disse dos livros que cada um tem seu destino. Talvez se pudesse dizer o mesmo das músicas, mas no último Concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, no dia 31 de maio desse ano, vimos o quanto uma mão pode influenciar a fortuna. Preparado para Beethoven, Mozart, Rachmaninoff, Bach, Schumann, Chopin, ou mesmo um Villa Lobos, assisti a um raro, erudito e generoso programa composto por Arthur Barbosa, Ulises Ferreti, Silvestre Revueltas e Andersen Viana, nomes que até então desconhecia. A seleção foi responsabilidade do Maestro Convidado, Cláudio Ribeiro, que levou nossa Orquestra a tocar peças desses músicos pela primeira vez. O primeiro aspecto a ser ressaltado, foi a harmonia rítmica do conjunto das diferentes partituras; depois, o fato de todos os compositores serem americanos e contemporâneos. Com exceção de Silvestre Revueltas, mexicano, nascido em 1899 e morto precocemente em 1940, de uma pneumonia, e na pobreza, devido à falta de reconhecimento de que são vítimas tantos artistas, todos os outros autores são vivos e estiveram presentes (salvo Andersen Viana, representado pela poetisa Regina Mello), o que deu ao 7º Concerto Oficial da OSPA um ar de festa!

A primeira parte foi dedicada inteiramente ao Concerto para Piano e Orquestra, de Arthur Barbosa, Variações em Busca de um Tema de Matos Rodríguez. Ao piano, Olinda Alessandrini esteve perfeita; delicadamente conduzida pela maestria de Cláudio Ribeiro, suas entradas foram sempre pontuais, oferecendo ao público toda a musicalidade de Arthur Barbosa que, aliás, ocupava, com a modéstia própria dos grandes, o lugar do segundo violino. Nascida como marcha de candombe, para uma comparsa do carnaval de 1915, no Uruguai, a música foi transformada por Roberto Firpo em tango e, depois de explorada por vários músicos, inclusive por Piazzolla, converteu-se no Concerto que exigiu repetidos aplausos do público porto-alegrense.

A segunda parte foi repartida entre o uruguaio Ferreti, o mexicano Revueltas, encerrando com o brasileiro Andersen Viana. A suíte O Passeio, de Ferreti (que está terminando seu doutorado em nossa UFRGS), é o resultado de seus próprios passeios pelas cidades de Rolle e
Genebra, na Suíça: as amplitudes, os silêncios cortados pelos trens, como em um quadro de Turner, e, no fundo da alma, o ritmo dos tambores candombeses a expressar uma saudade. De Silvestre Revueltas ouvimos o poema sinfônico Sensemayá, escrito sobre o poema homônimo do poeta Cubano Nicolás Guillén; sua estrutura evoca a influência africana sobre o caribe: a matança de uma cobra exige um ritual que exima o matador da culpa - um ouvido afinado poderia ter reconhecido em Sensemayá um dos temas da trilha sonora do filme Sin City. E então, para terminar com chave de ouro, a Sinfonia nº 3, de Andersen Viana, Terra Brasilis, cujo primeiro movimento, um andante místico, quase religioso, abre com uma maviosa música de sinos.  Repicando, eles evocam nossa mística religiosidade, fruto do cadinho cultural que conforma nossa gente e, a medida que a peça vai evoluindo para o segundo e terceiro movimento, transparece mais e mais o efeito da miscigenação onde prepondera o ritmo afro. 

Um bravo! ao Maestro Cláudio Ribeiro por sua regência. Um bravo! por revelar para nós esses compositores maravilhosos. E mais um bravo! por lembrar a essa geração que ainda há muito por fazer na música. Queremos bis.








































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