Luiz-Olyntho Telles da silva  Psicanalista


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ANDRÉ REBOUÇAS

DA ILHA FISCAL AO 
PANTEÃO DA PÁTRIA E DA LIBERDADE
TANCREDO NEVES

 p/lots

A primavera, naquele ano de 1889, estava muito agradável. Tudo florescia, e o entardecer, naquele sábado de 9 de novembro, particularmente fresco depois de uma tarde bem quente. Frente ao espelho, André Rebouças acertava o laço de sua black tie e, sem se aperceber do porquê, lembrava-se de seu pai. Ah! Como ele estaria orgulhoso de vê-lo aí, bonito e elegante, fazendo justiça ao seu esforço para dar-lhe uma boa educação. Engenheiro diplomado aos 22 anos, com uma carreira de quase trinta anos de importantes realizações, e ativo defensor da liberdade de sua gente... a imagem de um túnel e dos cálculos da estrutura de um pilar de sustentação da ferrovia entre Curitiba e Antonina, descendo a Serra do Mar, dançavam em sua cabeça junto com a do pai, amigo e conselheiro de Dom Pedro II. Logo mais, ele tomaria o barco para a Ilha Fiscal, para o grande baile. A sombra da República era preocupante, mas não impediria a comemoração das Bodas de Prata da Princesa Isabel com o Conde d’Eu.

Ao chegar, as notas de uma polonaise enchiam o ar como que repicando nos pingentes cristalinos dos candelabros. A nata do Rio de Janeiro estava lá e o champanhe borbulhava nos brindes. As mulheres, lindas, com seus decotes generosos. Entre elas, aquela senhorinha com a qual cruzara na rua, não fazia muito tempo, e foi convidá-la a dançar. E levou carão! A moça não aceitou e a ele, desenxabido, restou apenas inclinar-se, em educada mesura, com a mão direita sobre o peito, e afastar-se, primeiro com dois passos para trás, antes de dar-lhe as costas. Enfim, não era a primeira vez que lhe acontecia. Nem todos conheciam sua importância e nem todos estavam de acordo com seu esforço abolicionista. Mas o Imperador, sim, esse o conhecia bem, e, atento a tudo que se se passava à sua volta, tendo percebido o mal-estar da situação, logo pediu à sua filha, a Princesa Isabel, a rainha da festa, que fosse dançar com ele. E ela foi, sem pestanejar.

Na metade da semana seguinte, 15 de novembro, para surpresa da monarquia, saída da sombra, a República foi proclamada. A família imperial exilada, e, junto com ela, também a do Engenheiro e Abolicionista André Pinto Rebouças que, depois de relevantes serviços prestados na África, faleceu nos Açores, em 1898.

E hoje, depois de sancionada pelo Presidente do Brasil a Lei Nº 15003, de 16 de outubro de 2024, apresentada ao Congresso Nacional por Alessandro Vieira – passofundense e Senador da República pelo Estado de Sergipe, ocupado com a saúde e a defesa da liberdade –, André Rebouças está também no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília. Neste cenotáfio, permanecerá eternamente entre os heróis e heroínas da pátria, junto a nomes como o de Tiradentes, Deodoro da Fonseca, Dom Pedro I, Marquês de Tamandaré, José Bonifácio, Santos Dumont, Osório, Sepé Tiaraju, Ana Néri, Anchieta, Getúlio Vargas, Villa-Lobos, Anita Garibaldi, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Machado de Assis e, entre outros, também o de Maria Beatriz Nascimento, fundadora do Grupo de Trabalho André Rebouças na Universidade Fluminense.