Luiz-Olyntho Telles da Silva Psicanalista

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Mesa de Lançamento de
Da miséria neurótica à infelicidade comum

Porto Alegre, Movimento, 2009, 248pp.

Com a participação de

Prof. Dr. ERNILDO STEIN
Drª IVONE COELHO DE SOUZA
Drª LAURA WARD DA ROSA
Drª MARISTELA LEIVAS

e do Autor

Entre os colegas psicanalistas que não puderam estar presentes, felicitaram o autor:

Dr. Alberto Cabral (Buenos Aires): Muitas felicitações, Luiz-Olyntho!Un abrazo muy fuerte, para vos y para todos los colegas!

Drª. Beatriz Duró (Montevidéu): [p/telefone] Muitos êxitos neste dia tão importante.

Dr. Juan Carlos Mosca (Buenos Aires): Felicitaciones!

Dr. Rafael Villari (Florianópolis, SC): Todos sabemos que há encontros que marcam nossas vidas. Um deles me ocorreu há vinte anos, em Florianópolis. Uma amiga me apresentava um livro recém editado: Da Miséria Neurótica à Infelicidade Comum: Ensaios sobre a Transmissão da Psicanálise e, junto, uma série de recortes de jornais e revistas do seu autor: “um psicanalista de Porto Alegre que trabalha, também, aqui em Florianópolis”, me dizia.
   Desse primeiro encontro surgiram outros com o livro e, e pouco tempo depois, com o autor; desses encontros, uma (trans)-formação na forma de abordar as formações do inconsciente primeiro minhas, próprias, e depois dos outros.
   Da mesma forma em que poderíamos, cada um de nós, criar a trilha musical de nossas vidas podemos fazê-lo, da mesma forma, de nossas leituras e livros. As bibliotecas pessoais, às vezes, testemunham esta trilha. E este livro, aquele de 89`, este de 2009, balizam tanto o autor quanto uma geração de leitores. Sei que aquele livro marcou um grupo de jovens em formação, e espero que os jovens de hoje também gozem desta experiência através desta edição revista e ampliada. Ela permite, não só aceder a um texto claro, erudito e honesto mas, sobretudo vividamente psicanalítico. Com a vida que somente o desejo pode dar.
   Esta edição nos permite, também, reencontrar o Luiz-Olyntho de ontem e de hoje, o mesmo e diferente ao mesmo tempo; dialogando, se corrigindo, assinalando as diferenças. Vemos, da mesma maneira, um exercício que os autores muitas vezes relutam: a releitura de si mesmos, porém constante e necessária na experiência de um psicanalista.
   Para nós, antigos e atuais leitores, há outro encontro mais íntimo: na leitura de hoje reencontro o leitor de ontem. Na re-leitura simultânea das duas edições surgem anotações, comentários e, sobretudo, sensações. Junto com elas, lembranças e saudades de uma época que se atualiza parágrafo a parágrafo. E é graças à vontade e compromisso de Luiz-Olyntho em fazer este exercício de se re-ler, que o leitor de hoje poderá aceder a este lindíssimo livro que marcou, e poderá marcar, a vida de muita de gente.
   Querido Luiz-Olyntho, muito me lamento de não poder estar fisicamente presente nesta noite. Faço-o através destas breves, sinceras e emocionadas palavras: um grande beijo e forte abraço amigo. (Esta Carta foi lida por Maristela Leivas ao início da Mesa).

Dr. Ricardo Landeira (Montevidéu): Tu producción es importante, por ello la sostienes, buscas a otros para que la conozcan, y esperas algo que te ayude a seguir produciendo. Dijo Pompeyo: Navigare necesse est, vivere non est necesse. Lo de hoy no es sino un puerto más. Un abrazo.

E artistas como:

Lenir de Miranda (Pelotas, RS): Sucesso total que mereces.

E de parentes, tais como:

Idema Eulália e Adair da Siva (minha irmã e meu cunhado - Itu, SP): Que este livro traga muita alegria e realização. Com nosso forte abraço.

Dr. Francisco Pedro Pereira de Souza (Porto Alegre): Caro primo Luiz-Olyntho, parabéns e sucesso! Grande abraço de boas festas.

E também intelectuais de outras áreas:

Dr. Aguinaldo Severino (Santa Maria, RS): Olá Luiz-Olyntho, como vais?Infelizmente não será possível que eu esteja em Porto Alegre no dia 15/12. É pena. Gostaria muito de participar deste lançamento.
   Vi o convite e lembrei de uma descrição do quadro - do Bruegel - que você usou no convite! 
   Em um livro do Cees Nooteboom (El enigma de la luz – una viaje en el arte), ele diz o seguinte: Seis hombres, en un paisage estival, y los seis ciegos. La naturaleza, voluptuosa e impasible, ignora este hecho. Un arroyo serpenteante, juncos meciéndose, árboles ligeros. Entonces sucede. El primer hombre tropieza y cae de espaldas. El siguiente, que caminaba agarrado a él, cae sobre el primero. Irremediablemente caen también el tercero y el cuarto y los otros dos. De esta sucesión de instantes, el pintor ha seleccionado uno, aquel en el que el primer hombre yace en el suelo, mientras los demás alzan al cielo su extraviada mirada de ciego. Los ojos inexpresivos de los seis hombres están tan bien representados que, cuatrocientos años después, un joven médico francés, Antoine Torrilhon, emitió su diagnóstico; uno de los hombres tiene un leucoma en el ojo, una mancha blaquecina le cubre la córnea. El otro padece de una atrofia del globo ocular producida por un deterioro del nervio óptico como consecuencia de un glaucoma no tratado.
  La ceguera debe de ser la peor pesadilla imaginable para un pintor, por lo que no es de extrañar que Bruegel se interesara por los ciegos. A veces los temores se conjuran visualizándolos. Lo admirable es que ese pintor del siglo XVI contemplara aquellos ojos 'clínicamente', pues, en su época, la oftalmología no era sino una forma menor de hechicería. Se recomendaba soplar con suavidad en el ojo de quien padecía una afección ocular, 'echándole el aliento dulce que se logra masticando clavos o hinojo
[funcho]'. De bien poco les sirvió ese remedio a los seis hombres ciegos del cuandro. Abundabam los ciegos por aquel entonces, al igual que los cojos y jorobados, criaturas que el pintor observaba y representaba sin piedad y con tanta precisión que Antoine Torrilhon se muestra convencido de que Bruegel estudió medicina. Ignoro si eso será cierto o no, pero en cualquier caso esa idea nos aleja de la imagen que se tenía antaño de Bruegel, considerado como una especie de feriante bufonesco siempre dispuesto a tomar parte en las comilonas y juergas de su épica. El pintor vio con sus proprios ojos las diversiones populares, pero las debió de ver a distancia pues así lo delata su ojo clínico, esa observación fría própria del círculo intelectual en el que se movía. Sabemos que tuvo amistad con personajes como Dominicus lampsonius o el geógrafo y humanista Abraham Ortelius, quienes probablemente le juzgaron más certeramente que las generaciones posteriores. Y en que las obras pictóricas y las composiciones musicales no cambian com el paso del tiempo, lo que cambia es nuestra percepción visual y auditiva de las mismas. Mendelssohn redescubrió a Bach cuando haciá ya tiempo que éste había muerto, y lo que descubrió fue un Bach diferente al que tocaba el órgano a la iglesia de Santo Tomás de Leipzig. A su vez, el Bach de Mendelssohn fue desplazado por el de Harnoncourt. Voltaire detestaba Nôtre-Dame, aun siendo admirador de Bruegel, opinaba que éste carecía completamente de sentido de la 'mecánica' en la pintura.
   Felicidades para ti domani. A ti, e a doña Maria da Glória. E abraços meus - se for possível - ao senhorial Ernildo Stein. Ele é um grande sujeito. Um abraço.
Carissimos colegas e amigos da Psicanálise.

Emocionado com a presença de todos, antes de apresentar-lhes a mesa, quero dizer-lhes que os intelectuais somos todos um pouco como Diógenes, procurando suas coisas com uma lanterna. Ele, mais modesto, procurava apenas um homem honesto; nós, pretenciosos (falo por mim), buscamos a verdade, mesmo sabendo que ela não pertence a ninguém. Heidegger leu no alfa com que os gregos grafavam a verdade, no a privativo de alethéia, o fato de nós só a possuirmos por roubo. E aí, bem deveríamos seguir o conselho de Brecht, e fazer
Como o ladrão esperto
que de noite espia
com dificuldade
se tem polícia por perto,
[pois] assim deveria
mover-se aquele que busca a verdade.
E deveria como algo roubado,
em perigo,
trazer com cuidado
a verdade consigo.
Mas, perfeito idiota, trouxe aqui minhas verdades para mostrar-lhes, e tive a audácia de pedir a alguns colegas e amigos que as examinassem com todo o critério de que são possuidores. Foi assim que compus a Mesa, com meu antigo Professor de Filosofia, o por demais conhecido Prof. Dr. Ernildo Stein, reconhecido por seus conhecimentos da filosofia de Heidegger e autor de inúmeros livros; com minha colega de turma e amiga desde sempre, Ivone Coelho de Souza, estudiosa autora, entre outros, de Casamento, uma escuta além do judiciário, e de Direito de Família, diversidade e multidisciplinaridade; com Laura da Rosa, antiga aluna e autora de inúmeros artigos, hoje analista filiada à International Psychoanalitical Association, que eu costumo criticar; e também com a colega Maristela Leivas, membro, como eu, da Biblioteca Sigmund Freud e que, além de sua clínica particular, desenvolve um importante trabalho junto ao Hospital Cristo Redentor, onde tem se ocupado especialmente daqueles que tentam suicídio, não raro, por fogo! Um dos notáveis resultados de seu trabalho foi o da luta para conseguir que os curativos dos queimados sejam feitos sempre sob anestesia, coisa que a medicina até então considerava desnecessário.

E antes de passar-lhes a palavra, quero fazer um especial agradecimento ao Diretor da Editora Movimento, Prof. Carlos Appel. Quem o conhece sabe de seu esforço em facilitar a publicação de livros dedicados à cultura. Pois quero lhes dizer que seu trabalho constitui-se em gesto de grande valor, ainda mais para um homem de letras, como ele, que conhece as palavras de Thomas Fuller (1654-1734): A cultura valeu-se principalmente dos livros que fizeram os editores ter prejuízo. Muito obrigado!   -   L.-O.T.S.

MARISTELA LEIVAS:
   Para dizer da importância deste livro aos leitores aqui presentes, e a todos aqueles que se interessam pela Psicanálise, começo por apontar seu valor na formação de analistas, e, indiscutivelmente, na formação de alguns analistas deste tempo que inclui o ano de sua primeira edição, 1989, e por certo outros anos que o precederam, e os vinte anos que se seguiram até aqui, em sua segunda edição. Coincide com este período aquele em que vários colegas - e incluo-me entre esses -, dirigiram à instituição psicanalítica, a qual Luiz Olyntho era o presidente, suas cartas de intenção de formação psicanalítica, solicitando ingresso na instituição.
   Na ocasião de lançamento da primeira edição, ocorrida no auditório da Aliança Francesa, alguns alunos foram convidados a apresentar questões produzidas pelo texto, num momento semelhante ao de hoje. Segue ainda muito viva a lembrança da responsabilidade que senti ao pronunciar algumas palavras sobre o livro. Pensava que era muito cedo, que necessitaria ainda muitas outras leituras para fazê-lo, mas o autor nunca foi de poupar ou proteger seus alunos, de supor que somente no futuro poderiam se pronunciar. Como é de seu estilo, provocava a cada um dos que pretendiam a formação a tomarem o compromisso, a tomarem lugar, a assumirem seu desejo, e, justamente, abandonar a posição daquele que tudo aguarda do saber do mestre.
  E para que esta tomada de posição viesse a ocorrer, como podemos ler em vários dos ensaios que compõem esse livro, Luiz-Olyntho aponta à necessária experiência de análise, afirmando que será na análise de suas próprias formações do inconsciente, que o sujeito poderá reconhecer o desejo que o move, destacando que a transmissão da psicanálise se produz essencialmente deitando no divã de um analista.
  A análise requer imprescindivelmente a presença do outro. Considerando nossas resistências narcísicas, não haverá condições de auto-análise. Acrescenta o autor que um analisante, uma vez tendo começado sua análise, e, dando prosseguimento a ela, poderá modificar sua posição subjetiva de analisante à analista. E que para o começo, para a entrada na análise, contaremos com uma questão, algo não reconhecido a provocar uma pergunta que aparece para o sujeito como um enigma.
    E as primeiras palavras a se apresentarem através desse enigma já poderão comprovar a tese lacaniana que diz
constituir-se sujeito desde o Outro. É o que nos apresenta com muita sagacidade o autor em O Homem Natural. Lemos neste texto que a verdadeira função da linguagem é ser um elemento separador, instrumento que possibilita ao sujeito adentrar a uma ordem de ausência, e por isso falar. O analisante falará na análise de quem primeiro falou para ele, contará como a linguagem permitiu que ele entrasse no mundo e de que modo está estruturado desde esses outros que habitam sua história.
  Com a análise teremos um sujeito advertido dos efeitos da linguagem em cada um de nós, efeitos de linguagem que Freud chamou o inconsciente. Desde aí poderemos identificar o que Lacan quer dizer com - o inconsciente é o discurso do Outro. O inconsciente depende da linguagem, depende do fato de sermos seres de fala e essa é a nossa diferença fundamental com os animais, articulada a obediência à lei edípica.  Nesse mesmo texto, o autor destaca: a realidade que distingue o homem é uma realidade de palavras, mas isso não significa que o homem tenha domínio sobre as palavras, justamente o que mais aparece é a perda de controle.
  A referência à questão edípica articulada a linguagem, está colocada como tema central do livro, e situada no centro mesmo do volume. Com Édipo, é analisada a imagem da cegueira, retratada na arte da capa e
também na advertência do autor ao longo do livro. Convém examinarmos com cuidado onde nos apoiamos, para não corrermos o risco de seguir no engano, quer dizer, para não cairmos todos no buraco.
  E por falar em enganos, destaco o texto Um Lugar Impossível. Considero-o um texto chave para elucidar questões próprias à formação de analistas. Com uma crítica aguçada quanto aos conceitos que circulam sob o título de psicanálise, Luiz Olyntho enumera e examina diferentes pontos: por que a psicanálise está colocada por Freud entre as profissões impossíveis? O que a diferencia de condutismo e guestalt? Por que é tão difícil suportar o lugar do analista? Como podemos entender o conceito de regressão e sua relação com o uso do divã? O que entendemos por contratransferência? Tem esse conceito alguma relação com o desejo do analista? E ainda: qual a diferença de dirigir o paciente e dirigir a cura?  Enfim, este é realmente um texto esclarecedor.
  Comecei tentando dizer da importância deste livro, e acho que deixarei a tarefa inacabada. Nós, leitores, teremos muito a examinar. Enfrentar-nos-emos sempre com um impossível.
  Para finalizar, resta
-nos agradecer ao autor por sua produção. Agradecer por estes textos que, depois de vinte anos dialogando na biblioteca - uma idéia que retirei de uma recente entrevista concedida por Luiz Olyntho a Dilan Camargo, onde dizia que seus textos ficam por um certo tempo amadurecendo na gaveta antes de serem novamente revisados e publicados -, depois de vinte anos dialogando com outros autores na biblioteca, dizia, volta agora renovado, com uma linda produção, uma nova capa, alguns textos novos, todos reescritos e, com o acréscimo de várias notas. Parabéns ao Luiz-Olyntho!
Porto Alegre,15 de dezembro de 2009.
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(Estão reproduzidos aqui apenas os textos que chegaram via internet).