Luiz-Olyntho Telles da Silva Psicanalista

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As lições da nova Eurídice (1)
Apenas por nós choramos
ANA MARIANO
Penalux, 2019.

Luiz-Olyntho Telles da Silva
Porto Alegre, 29 de junho de 2019.
(Dia de São Pedro)


    Apenas por nós choramos, de Ana Mariano (Guaratinguetá, Penalux, 2019), é um livro para ser saboreado com vagar, afinal, saber e sabor derivam do mesmo sapere. Apenas por nós choramos, sabe a um olhar interior.
    A capa do livro já é preciosa: uma barca, vazia, flutua pelos meandros de um rio de superfície (as profundezas precisam ser inferidas). Não estão aí o barqueiro, nem o passageiro. Convidado é o leitor, para junto da poeta navegar.
    Quem canta, agora, é uma Nova Eurídice. A antiga, sonhadora, deixou-se arrebatar pelo Hades e vãs foram as tentativas de Orfeu para libertá-la. Teria sido possível, mas sua salvação dependia, então, inteiramente da autoconfiança do herói, que falhou. A Nova Eurídice, confiante em si, busca outra vez a liberdade.
    Inspirada, quiçá, em Manoel de Barros, sabe que “tudo que não invento é falso”, e termina sua Canção assim:
“Hoje, liberta, não sou mais a que precisa
a que não existe se não a inventam.”
    Para alcançar essa construção, contudo, foi preciso navegar e, com os Cabelos Brancos, descobrir que, um dia, foi égua e garanhão, e, antes ainda, como Vargas Neto, que veio da terra e um dia já foi cerro, ela já foi pedra e mar, e também marfim e ébano, tal como no piano de Paul McCartney.
    A dualidade dura e selvagem amadurece em dialogicidade. A Nova Eurídice sabe, agora, que as lembranças – como no poema Quietude –, servem para dar consistência à vida e que são lembranças de duas, de pelo menos duas, que
[...] embora misturadas
é sempre por nós mesmas que choramos.


 

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