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A relação
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Bem vindos à minha página
Ela representa um esforço,
eine dräng,
como diria Freud, em prol da Psicanálise.
Aqui poderão ser
encontrados alguns
dados sobre minha formação,
minha prática, publicações,
artigos, e também uma
incursão nos campos da tradução
e da literatura através de contos, crônicas
e ensaios de crítica literária.
Seus comentários
serão bem
vindos.
Contar com sua leitura é um
privilégio.
|
Notas Psicanalíticas
08
PSICANALISTA
TITULO E NOMINAÇÃO
p/Luiz-Olyntho Telles
da Silva
Se o inteligente ouve uma palavra sábia,
aprecia-a e acrescenta-lhe
algo de seu.
ECLESIÁSTICO,
21:15.
Examinei todas
as ações que se fazem debaixo do sol: na verdade,
não passam de vaidade e correr atrás do vento!
ECLESIASTES,
1:14.
|
Entre as recomendações
de Lacan, destaco esta pergunta a qual devemos nos fazer a cada tanto:
O que é a psicanálise?
Mas então nós
ainda não sabemos? – Se a pergunta procede, então é
verdade, ainda não sabemos o que é a psicanálise! A
esta altura é possível que alguém se pergunte de que
nós estamos falando. Pois lhes antecipo
a resposta: - Lacan fala para os analistas!
Sim, acho que sim.
Lacan nos questiona, a todos os que podemos escutar nessa pergunta o
signo da incompletude, a marca de uma falta. É desde aí
que podemos perguntar pelo direito ao uso do título de psicanalista
e também de quem está autorizado a atribuir esse título.
– Mas nessa pergunta está implícito também um questionamento
ao saber.
Psicanalista é
aquele que reconhece o estatuto do inconsciente e o fenômeno da
transferência. Para Freud, isso parecia ser suficiente. Lacan,
depois de dez anos de seminários regulares, ou, melhor dito, quase
regulares, diz claramente, em 1964, que o inconsciente
não é sem a transferência e, mais, também
não é sem os conceitos de pulsão e repetição.
Quero dizer com isso que hoje se exige do psicanalista um saber conceitual.
Então na época de Freud não se exigia? Gostaria de
afirmar que sim, que se exigia, mas na verdade não estou certo
disso. De um lado, é claro, repetição, pulsão,
transferência e inconsciente são
todos conceitos freudianos. Sobre o conceito de pulsão, por exemplo,
Freud não podia ser mais explícito: conceito
limítrofe entre o somático e o psíquico. Se quisermos
atribuir-lhe uma territorialidade, teremos de dizer que ela se situa em
uma espécie de no man's land, em uma terra de ninguém,
um lugar de fronteira, quase imaginário. Mas não se trata do
Imaginário, precisamos desse conceito para constituir o Real. A pulsão
é tão real que por muito tempo se pensou tratar-se de um instinto.
O que Lacan faz, retomando Freud, é estabelecer, de modo mais claro
e preciso, a relação estrutural, quer dizer, a interdependência
entre esses conceitos.
Para Freud, o conceito
de transferência logo se tornou um dos mais importantes para a
prática analítica e Lacan deu-lhe certa extensão,
criando – salvo melhor aviso – o conceito de transferência de
trabalho. Há quem diga que o conceito já estava em
Freud desde 1914, quando ele fala de durcharbeiten, mas não
é a mesma coisa. O importante, em todo o caso, é tomar em
consideração o fato de que, se existe transferência,
ela precisa ser analisada. Quando não o é, o espaço
analítico fica aberto ao acting-out. Penso nos trabalhos
de cartel em que o objeto da transferência de trabalho nem sempre está
claro. Penso também na quantidade de gente que se diz psicanalista,
movida muitas vezes apenas por um vago sentimento de transferência imaginária
para com o nosso campo.
Freud falava da psicanálise
como de uma Tiefenpsychologie, uma Psicologia das profundezas.
Lacan fala-nos de superfícies, da lógica das superfícies.
Hoje navegamos por águas mais rasas, mais difíceis, como
adivinhou Samuel Clemens, ao adotar o pseudônimo de Mark Twain.
A questão apresentada
busca saber se aquele que se candidata ao título, ou mesmo aquele
que já o usa, é capaz de encontrar o caminho analítico
através das diferentes rasuras, se domina essa base conceitual
e suas inter-relações, uma vez que o domínio dos
conceitos é sempre muito particular. E mais, nessa averiguação
logo tropeçamos com uma dificuldade: - Desde onde é possível
interrogá-lo? Pois não há de ser desde onde é
exercido o ensino, pois uma das coisas que já sabemos é
que o ensino da psicanálise é enigmático. Talvez
por isso não haja acordo possível quanto ao ensino!
Seguidamente, escutamos
dizer que quando o analista fala, quando dá um seminário,
quando dá uma conferência, ele fala desde o lugar de analisante.
Pois vejamos, Lacan mesmo fala dessa questão em sua Alocução
pronunciada no encerramento do Congresso da Escola Francesa de Psicanálise,
em 19 de abril de 1970, um congresso dedicado ao ensino. Depois de especificar
que o ensino consiste numa transmissão de um saber tomado como
um balouço entre aquele que ensina e aquilo que é ensinado
e da ressalva de que o ensino pode ser tomado como barreira ao saber,
ele fala de seu próprio caso: Je ne peux être
enseigné qu’à la mesure de mon savoir, et enseignant, il
y a belle lurette que chacun sait que c’est pour m’instruire.
– Traduzi-lo-ei assim: Só posso ser discente na medida de meu
saber, e docente, há muito tempo cada um sabe que é para
instruir-me.
Nessa época,
Lacan está concluindo a elaboração de sua teoria
dos discursos e diz que a posição daquele que ensina é
a do sujeito barrado [$], o que não implica haver docente sempre
que haja este.
Isso quer dizer que
o docente se produz ao nível do sujeito, este, como ele mesmo
define, representado pelo significante frente a outro significante, o
que certamente tem suas implicações: se por um lado, para
chegar à docência, o saber deve, de algum modo, ser saber
de amo para ter validez de verdade - como no Discurso do Capitalismo em
que o saber do amo é mediado pela docência:
- por outro lado, o discurso do analista
não se sustentaria se o saber exigisse a mediação
da docência. Por isso mesmo, o saber e a docência são
sempre antagônicos (salvo no Discurso do Capitalismo):
Creio ainda que devamos
tomar em conta que o saber produzido pela psicanálise é
um saber advindo do sono. Todos nos lembramos do período histórico
da hipnose. Na sua evolução, Freud passou a valorizar o
produto do sono, o sonho. Desde então, propomos ao analisante
falar desde a posição deitada, próxima da do sono.
Quando Lacan diz falar desde a posição do analisante, é
desta posição que ele está falando, tal como no Discurso
da Histérica:
Pois uma das primeiras
implicações dessa constatação é que
não podemos dar um valor apodíctico a esses enunciados
e também não podemos tomá-los como equivalentes à
voz de Deus. Isso parece ser o que acontece quando são repetidos
ecolalicamente. Falar como analisante implica em não produzir
nada de maîtr-isable, nada de am[o]es-trável,
apesar da aparência, senão como sintoma.
É sobre esse
pressuposto que podemos valorizar a posição do analista
como a daquele que não sabe. O psicanalista está no lugar
de insciente. Para ocupar este lugar de semblant de objeto, antes
de tudo precisa estar nesse lugar de insciência. E isso é
o mais difícil de fazer. Em seu seminário sobre a Interpretação
de sonhos, M. Safouan diz que toda a dificuldade da formação
de um analista é formar alguém que aceite colocar-se nesta
situação de ignorância primordial.
Um dos livros bíblicos
a respeito da sabedoria, o Eclesiastes, diz, na interpretação
de São Jerônimo, que tudo é vaidade. É
com o seu Vanitas vanitatum que ele traduz o havel havalim
hebraico. Lacan mesmo não foi insensível a essa afirmação, valorizando
a letra na sua escrita original: לבה. Havel, traduzido por vaidade,
é mesmo o hálito, o sopro que se transforma
em voz. E Qohélet – o poeta que sabe – faz havel rimar
com ruah, com o vento. Haroldo de Campos
dirá que
temos fome de vento. Eis aí uma das origens da angústia,
como nos diz Lacan ao final de seu seminário. Jones mesmo se viu
na contingência de elaborar a conceição
da Madona pela orelha através desse sopro.
Não há dúvida de
que a palavra fecunda. Mas a palavra que nasce da palavra já
não é mais a mesma palavra. Não nascemos,
enquanto sujeitos, do mesmo, nascemos do Outro simbólico. Ainda
mais, para seguir seu curso, a palavra nascida da palavra precisa ser
tomada em sua diferença. Talvez por isso a
psicanálise precise sempre ser reinventada.
Na busca de uma garantia de boa formação,
os analistas têm inventado dispositivos para assegurar-se do momento certo
para autorizar um candidato a tornar-se analista. Mas, como se diz,
echa la ley, echa la trampa. Ricardo Estacolchic,
de saudosa lembrança, por exemplo, conta-nos que, conversando
sobre o tema com um colega de São Paulo, ouviu o seguinte relato:
quando os aspirantes a analistas foram aí informados de que, para
tornarem-se analistas, era preciso passar pelo fim de análise, os
finais de análise começaram a ser produzidos em cataratas.
Não é difícil constatar que a quantidade certamente
implicará em uma perda da transparência, pois catarata
também é isso. Ricardo estava ocupado, nessa época
(1992-93), com o Jurado de Nominação de A.M.E., na sua Escola
Freudiana de Buenos Aires, e era de opinião que o melhor critério
era o de ler atentamente a produção escrita e publicada
dos indicados para ver como se colocavam em relação a
este quesito da ciência x insciência. Preferia isso a escutar
as apresentações, face às quais não é
difícil ficar tomado por sentimentos estéticos de fascinação
ou rechaço. Apesar de a leitura não ser mais fácil,
ele ainda preferia esse recurso. Assim lhe parecia mais fácil
vencer a tendência a rechaçar um texto que não estivesse
escrito dentro do código da paróquia. Outros textos são
tão complicados que fazem lembrar Kepler, cujas notas, dizem, são
tão intrincadas que é mais fácil ir procurar suas
leis diretamente no céu do que em seus manuscritos. Mas o que parece
é que a grande maioria dos soi disantes
analistas não têm publicações suficientes para
serem examinadas, isso quando as têm.
Frente à insegurança,
o mais fácil é repetir conceitos reconhecidos por seu
acento lacanês. Aceder à posição
de ignorância a priori é o mais difícil de
assumir-se, mas essa insciência deve ser o mais real da posição
do analista, na medida em que, sem a insciência, sem alcançar
essa ignorância, não é possível chegar a uma
mínima compreensão do que está em jogo.
Quando proponho aos
meus alunos que escrevam, que apresentem seus trabalhos, faço-o
convencido de que é assim que melhor aprendem. É assim
que, a cada tanto, o analista renova seus laços com a psicanálise,
estes laços que na Bíblia aparecem como bérit,
sendo renovados, de tempos em tempos, entre Elohim e seu povo. Gosto da
comparação. É através desses laços
que podemos reconhecer em que discurso se encontra o analista.
Assim, quando o Santo
faz a apologia da vaidade, não podemos esquecer que ele
está falando da qualidade do que é vão, que está
falando da importância do vazio - eu diria da incompletude, da falta,
vale dizer, do falo.
Na análise,
trata-se de mudar o valor da falta, dando a isto que falta uma certa
legitimidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ESTACOLCHIC, R. Apuntes Clínicos de um Psicoanalista.
Buenos Aires, Lugar Editorial, 1994.
FREUD, S. Recordar, repetir e elaborar [1914]. Rio de Janeiro,
Imago, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, vol. XII, s.d.
LACAN, J. L’Angoisse [1962-63]. Seminário inédito.
Aula de 3.07.1963.
LACAN, J., Allocution prononcée pour la cloture du
congrès de l’École freudienne de Paris, le 19 avril 1970,
par son directeur. Scilicet, nº 2/3, Paris, Seuil, 1970.
SAFOUAN, M. Interpretación de los sueños.
In Cuadernos Sigmund Freud, nº 8, Escola Freudiana de Buenos Aires.
Notas Psicanalíticas:
01
(Os antecedentes do sujeito); 02 (O positivo e o negativo);
03 (Por que a Psicanálise?);
04
(A linguagem e os distúrbios emocionais); 05 (Sobe a ética da
Psicanálise); 06
(A Psicanálise e a Literatura); 07 (A moeda gasta)
|
Não há a realidade
sem a linguagem! Na impossibilidade de compreender
o mundo em que vivemos, cercamo-nos de metáforas
e vivemos ao seu abrigo. Mas como as soluções
são sempre provisórias, característica
primeira das metáforas, o problema é
quando elas viram sintagmas cristalizados, metáforas
petrificadas, momento em que se imagina poder morar para
sempre nos tropos da retórica, a salvo da
realidade.
|
SINOPSE
Um elefante em
Albany Street comenta cinco diferentes formas narrativas: Epopeia, Teatro,
Conto, Poesia e Romance. Em sua análise, percorre obras que vão
desde a clássica Odisseia e sua paródia, o revolucionário
Ulisses, passando por Chesterton e Molnár, até os mais contemporâneos
e próximos, como Ana Mariano, Assis
Brasil, Erico Verissimo, Cristovão Tezza
e Vargas-Llosa, entre outros. Comparando as traduções
com os textos originais, procurando o sentido encoberto,
por vezes nos textos de outros autores citados, resgatando
antecedentes, ou ainda buscando ler nas entrelinhas, mesmo
por entre as palavras, e até nos diastemas, Luiz-Olyntho
Telles da Silva detecta em cada autor as influências
de sua formação – entre as quais vê
preponderarem as autoridades de Dante, Goethe e Flaubert
– e desvela, com nova abordagem crítica, as mensagens
dos diferentes textos cujos ensinamentos servem tanto ao
escritor que quer aprimorar a arte da descrição
como ao homem que está continuamente aprendendo a viver. -
à venda na Livraria
Cirkula
- Av. Oswaldo
Aranha, 522, Porto Alegre, RS - www.cirkula.com.br -
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Dra. Ângela Pagot @; Dra. Marta D'Agord @;
Maristela da Costa Leivas @; Maria da Glória Telles
da Silva @
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crítica de
DULCINEA SANTOS
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